Boas Práticas no Processo de Descanulação da Pessoa com Traqueostomia: Revisão Integrativa da Literatura

Autores

DOI:

https://doi.org/10.33194/rper.2024.398

Palavras-chave:

Traqueostomia, Enfermagem, Reabilitação

Resumo

Introdução: O aumento progressivo de pessoas com traqueostomia e a demora na descanulação contribui para o aumento no tempo médio de internamento, pelo que emerge a necessidade de compreender e mapear o conhecimento atual sobre esta temática. O sucesso do processo de descanulação precoce proporciona uma maior autonomia da pessoa, a diminuição do tempo de internamento, bem como o retorno mais célere ao domicílio. Mas, as evidências sobre a temática da descanulação são escassas, neste sentido, surgiu a questão orientadora deste estudo: Quais as melhores práticas para implementar o processo de descanulação de um doente com traqueostomia? Os objetivos estabelecidos para este estudo incluem: (1) identificar os critérios para uma descanulação bem-sucedida; (2) identificar as etapas do processo de descanulação; (3) identificar os fatores preditores para iniciar a descanulação; e (4) identificar as técnicas que devem ser incluídas num programa de reabilitação.

Metodologia: Foi conduzida uma revisão integrativa da literatura, seguindo a metodologia PRISMA para dar resposta aos objetivos estabelecidos. A pesquisa foi realizada relativamente ao período compreendido entre 2013-2023 nas bases de dados presentes na plataforma EBSCOHost® e PubMed®.

Resultados: Da pesquisa realizada, foram incluídos onze artigos que responderam às questões iniciais. Salientam-se as categorias dos critérios para o início da descanulação: estabilidade clínica, consciência, ventilação e deglutição. No que concerne às etapas de descanulação, estas inserem-se nas categorias que abrangem a permeabilidade das vias aéreas, desinsuflação do cuff, adaptação de válvula fonatória, treino de oclusão, troca de cânula, avaliação da tosse e estimulação e avaliação da deglutição. Como indicadores preditivos da descanulação, destacam-se as características das pessoas com traqueostomia, comorbilidades, consciência, ventilação e deglutição. Adicionalmente, obtivemos uma visão abrangente das técnicas de reabilitação adotadas pelas equipas multidisciplinares, tais como fortalecimento muscular e respiratório, mobilização passiva e ativa dos membros e levante precoce.

Discussão: Os resultados obtidos nesta revisão estão em consonância com outros autores e com a prática clínica. É importante destacar que ao considerar estes quatro aspetos no processo de descanulação: 1 - critérios para o início da descanulação, 2 - etapas de descanulação, 3 - indicadores preditivos do sucesso da descanulação e 4 - programa de reabilitação instituído, é possível assegurar uma descanulação com maior segurança e sucesso.  

Conclusão: Para impulsionar o processo de descanulação, é essencial considerar os critérios para o início de descanulação, etapas, fatores preditores e de programa de reabilitação. Essas áreas devem ser incorporadas em protocolos e programas sistematizados por equipas multidisciplinares para otimizar o processo. Ressalva-se a importância de reconhecer a escassez de evidência científica nesta área e as limitações intrínsecas ao estudo.

Referências

Brenner MJ, Pandian V, Milliren CE, Graham DA, Zaga C, Morris LL, et al. Global Tracheostomy Collaborative: Data-driven improvements in patient safety through multidisciplinary teamwork, standardisation, education, and patient partnership. Br J Anaesth. 2020;125(1):e104-e118. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32456776/.

Direcção-Geral de Saúde. Norma No011/2016: Indicações Clínicas e Intervenção nas Ostomias Respiratórias em Idade Pediátrica e no Adulto. Direcção Geral de Saúde. 2017; 1-44. Available from: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0112016-de-28102016-pdf.aspx

McGrath BA, Brenner MJ, Warrillow SJ, Pandian V, Arora A, Cameron et al. Tracheostomy in the COVID-19 ERA: Global and Multidisciplinary guidance. Respir Med. 2020;8(7):717-725. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32422180/.

Durbin CG. Tracheostomy: Why, when, and how? Respir Care. 2010;55(8):1056–1068. Available from: https://rc.rcjournal.com/content/55/8/1056.

Bonvento B, Wallace S, Lynch J, Coe B, McGrath BA. Role of the multidisciplinary team in the care of the tracheostomy patient. J Multidiscip Healthc. 2017;10:391-398. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29066907/.

Singh RK, Saran S, Baronia AK. The practice of tracheostomy decannulation - A systematic review. J Intensive Care. 2017;5(38):1-12. Available from: https://doi.org/10.1186/s40560-017-0234-z.

Medeiros G, Sassi F, Lirani-Silva C, Furquim de Andrade C. Critérios para descanulação da traqueostomia: revisão da literatura. CoDAS [Internet]. 2018 [cited 2022 Oct]. Available from: https://www.scielo.br/j/codas/a/9dBvvJRFtqxSttxFz6hyzkx/?format=pdf&lang=pt.

Everitt E. Tracheostomy 2: Managing the weaning of a temporary tracheostomy. Nurs Times. 2016;112(20):17-19. Available from: https://www.nursingtimes.net/clinical-archive/respiratory-clinical-archive/tracheostomy-2-managing-the-weaning-of-a-temporary-tracheostomy-16-05-2016/.

OE. Guia Orientador de Boas Práticas: Reabilitação Respiratória [Internet]. Lisboa; 2018.

Marcelino, P. Manual de Ventilação Mecânica no adulto: Abordagem Ao Doente Crítico. 1ªed. Loures: Lusociência;2008.

Silva, R., Carvalho, A., Rebelo, L., Barbosa, L., Araújo, T., Ribeiro, O., Bettencourt, M. Contributos do referencial teórico de Afaf Meleis para Enfermagem de Reabilitação. Revista Investigação em Enfermagem [Internet]. 2019 [cited 2024 February]; 26 (2):35-44. Available from: http://www.sinaisvitais.pt/images/stories/Rie/RIE26_s2.pdf

Stelfox HT, Hess DR, Schmidt UH. A North American survey of respiratory therapist and physician tracheostomy decannulation practices. Respir Care. 2009;54(12):1658-1664.

Ghiani A, Tsitouras K, Paderewska J, et al. Incidence, causes, and predictors of unsuccessful decannulation following prolonged weaning. Ther Adv Chronic Dis. 2022;13. doi:10.1177/20406223221109655.

Bishnoi T, Sahu PK, Arjun AP. Evaluation of Factors Determining Tracheostomy Decannulation Failure Rate in Adults: An Indian Perspective Descriptive Study. Indian J Otolaryngol Head Neck Surg. 2022;74(Suppl 3):4849-4854. doi:10.1007/s12070-020-01982-y

Wahla AS, Mallat J, Zoumot Z, Shafiq I, De Oliveira B, Uzbeck M, et al. Complications of surgical and percutaneous tracheostomies, and factors leading to decannulation success in a unique Middle Eastern population. Intensive Care Med. 2020. Available from: https://doi.org/10.1007/s00134-020-06148-5

Chambers MA, Moylan JS, Reid MB. Physical inactivity and muscle weakness in the critically ill. Crit Care Med. 2009;37(10 Suppl)

Chiang LL, Wang LY, Wu CP, Wu HD, Wu YT. Effects of physical training on functional status in patients with prolonged mechanical ventilation. Phys Ther. 2006;86(9):1271-81.

Lima et al. Influência da força da musculatura periférica no sucesso da descanulação. Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23(1):56-61.

Hernandez G, Ortiz R, Pedrosa A, Cuena R, Vaquero Collado C, Gonzalez Arenas P, et al. The indication of tracheotomy conditions the predictors of time to decannulation in critical patients. Med Intensiva. 2012;36(8):531–539

Mota De Sousa LM, Furtado Firmino C, Alves Marques-Vieira CM, Silva Pedro Severino S, Castelão Figueira Carlos Pestana H. Revisões da literatura científica: tipos, métodos e aplicações em enfermagem. Rev Port Enf Reab [Internet]. 23 de Junho de 2018 [citado 10 de Dezembro de 2023];1(1):45-54. Disponível em: https://rper.aper.pt/index.php/rper/article/view/20

Joanna Briggs Institute. JBI Critical Appraisal Checklist for Systematic Reviews [Internet]. Adelaide: Joanna Briggs Institute; 2017 [cited 2024 Feb 28]. Available from: https://jbi.global/sites/default/files/2019-05/JBI_Critical_Appraisal-Checklist_for_Systematic_Reviews2017_0.pdf

Page MJ, McKenzie JE, Bossuyt PM, Boutron I, Hoffmann TC, Mulrow CD, et al. The PRISMA 2020 statement: an updated guideline for reporting systematic reviews. BMJ. 2021;372:n71. doi: 10.1136/bmj.n71. Available from: http://www.prisma-statement.org/.

Bellon PA, Bosso MJ, Echegaray JEC, Larocca F, Gagliardi J, Primosich WA, Pavón HM, Yorio RD, Cancino JJ. Tracheostomy Decannulation and Disorders of Consciousness Evolution. Respir Care. 2022;67(2):209–215. https://doi.org/10.4187/respcare.08301.

Enrichi C, Battel I, Zanetti C, Koch I, Ventura L, Palmer K, Meneghello F, Piccione F, Rossi S, Lazzeri M, Sommariva M, Turolla A. Clinical Criteria for Tracheostomy Decannulation in Subjects with Acquired Brain Injury. Respir Care. 2017;62(10):1255–1263. https://doi.org/10.4187/respcare.05470.

Heidler MD, Salzwedel A, Jöbges M, Lück O, Dohle C, Seifert M, von Helden A, Hollweg W, Völler H. Decannulation of tracheotomized patients after long-term mechanical ventilation - results of a prospective multicentric study in German neurological early rehabilitation hospitals. BMC Anesthesiol. 2018;18(1):65. Available from: https://doi.org/10.1186/s12871-018-0527-3.

Musso G, Leingruber M, Managó M, Friscione L, Gomez MC, Rodriguez A, Kolmann B, Bennazar L, Lizaso D, Olguin G, Plotnikow G. Seguimiento a largo plazo de pacientes traqueostomizados post injuria cerebral adquirida grave [Long-term follow-up of tracheostomized patients post severe acquired brain injury]. Medicina [Internet]. 2023 [cited 2023 May]; 83(2):219–226. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37094190/.

Morris LL, McIntosh E, Whitmer A. The importance of tracheostomy progression in the intensive care unit. Crit Care Nurse. 2014;34(1):40–50. https://doi.org/10.4037/ccn2014722.

Costi S, Brogneri A, Bagni C, Pennacchi G, Beneventi C, Tabbì L, Dell'Orso D, Fantini R, Tonelli R, Beghi GM, Clini E. Rehabilitation of Difficult-to-Wean, Tracheostomized Patients Admitted to Specialized Unit: Retrospective Analyses over 10-Years. Int J Environ Res Public Health [Internet]. 2022 [cited 2022 Oct]; 19(5):2982. Available from: https://doi.org/10.3390/ijerph19052982.

Perin C, Meroni R, Rega V, Braghetto G, Cerri CG. Parameters Influencing Tracheostomy Decannulation in Patients Undergoing Rehabilitation after severe Acquired Brain Injury (sABI). Int Arch Otorhinolaryngol. 2017;21(4):382–389. https://doi.org/10.1055/s-0037-1598654.

Zanata I de L, Santos RS, Hirata GC. Tracheal decannulation protocol in patients affected by traumatic brain injury. Int Arch Otorhinolaryngol. 2014;18(2):108–114. https://doi.org/10.1055/s-0033-1363467.

Zhou T, Wang J, Zhang C, Zhang B, Guo H, Yang B, Li Q, Ge J, Li Y, Niu G, Gao H, Jiang H. Tracheostomy decannulation protocol in patients with prolonged tracheostomy referred to a rehabilitation hospital: a prospective cohort study. J Intensive Care. 2020;10(1):34. Available from: https://doi.org/10.1186/s40560-022-00626-3.

Pasqua F, Nardi I, Provenzano A, Mari A. Weaning from tracheostomy in subjects undergoing pulmonary rehabilitation - multidisciplinary respiratory medicine. Multidiscip Respir Med [Internet]. 2015 [cited 2020 Jul]; 10:1-7. Available from: https://mrmjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40248-015-0032-1.

Lemyze M, Komorowski M, Mallat J, Arumadura C, Pauquet P, Kos A, Granier M, Grosbois JM. Early Intensive Physical Rehabilitation Combined with a Protocolized Decannulation Process in Tracheostomized Survivors from Severe COVID-19 Pneumonia with Chronic Critical Illness. J Clin Med. 2022;11(13):3921. https://doi.org/10.3390/jcm11133921.

Cunha M, Barosa J, Margalho P, Tomé P, Laíns J. Protocolo de Encerramento de Traqueotomia em Internamento de Reabilitação. Rev Soc Port Med Fis Reabil [Internet]. 2012 [cited 2023 May]; 28-35. Available from: https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwj0mbaft8OBAxUcUKQEHQz3DQ4QFnoECBEQAQ&url=https%3A%2F%2Fspmfrjournal.org%2Findex.php%2Fspmfr%2Farticle%2Fdownload%2F10%2F10&usg=AOvVaw3hIQkb02Ufq94-YOfwbj2N&opi=89978449.

Mendes F, Ranea P, Tomazetti de Oliveira A. Protocolo de desmame e decanulação de traqueostomia. Rev UNILUS Ens Pesq [Internet]. 2013 [cited 2021 Feb]; 10(20):5-12. Available from: http://revista.unilus.edu.br/index.php/ruep/article/viewFile/100/u2013v10n20e69.

Hausberger C, Gomes R, Leonor V, Gaspar M, Júnior C, Santos R. Proposta de protocolo para decanulação realizada por equipe multidisciplinar. Ciência Cult. [Internet]. 2016 [cited 2021 Jun]; 4(52):11-18. Available from: https://seer.utp.br/index.php/h/article/view/884.

Diaz-Ballve L, Villalba D, Andreu M, Escobar M, Morel-Vulliez, Lebus J, Rositi E. Respiratory muscle strength and state of consciousness values measured prior to the decanulation in different levels of complexity. A longitudinal prospective case series study. Med Intensiva [Internet]. 2019 [cited 2023 May]; 270-280. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2173572719300839?via%3Dihub.

Tornari C, Surda P, Takhar A, Amin N, Dinham A, Harding R, Ranford DA, Archer SK, Wyncoll D, Tricklebank S, Ahmad I, Simo R, Arora A. Tracheostomy, ventilatory wean, and decannulation in COVID-19 patients. Eur Arch Otorhinolaryngol. [Internet]. 2021 [cited 2023 May]; 278(5):1595–1604. Available from: https://doi.org/10.1007/s00405-020-06187-1.

Mussa CC, Gomaa D, Rowley DD, Schmidt U, Ginier E, Strickland SL. AARC Clinical Practice Guideline: Management of Adult Patients with Tracheostomy in the Acute Care Setting. Respir Care. 2021 Jan;66(1):156-69. doi: 10.4187/respcare.08206

Downloads

Publicado

2024-07-02

Como Citar

1.
Oliveira Agostinho IM, Pestana H, Mesquita C. Boas Práticas no Processo de Descanulação da Pessoa com Traqueostomia: Revisão Integrativa da Literatura. Rev Port Enf Reab [Internet]. 2 de Julho de 2024 [citado 8 de Setembro de 2024];7(2):e398. Disponível em: https://rper.pt/article/view/36623